por Vivien Rose Böck, psicóloga clínica e escolar, mestre em Psicologia e diretora do CAPE
Continuação do post A Carreira na Psicologia Escolar – leia aqui
Além das condições que buscam contemplar a maior flexibilização para o mercado de trabalho, o desenvolvimento de uma carreira também é fortemente influenciado pelos diferentes ciclos de vida do profissional. Mainiero e Sullivan (2005) descrevem a teoria caleidoscópica de como as pessoas alteram o desenho de suas carreiras de acordo com os diferentes aspectos da sua vida. Neste sentido, se valem da figura do caleidoscópico, que transforma as imagens dentro do seu tudo, à medida que é girado. Também assim os profissionais alteram “o mosaico” de suas carreiras ao necessitarem se adequar aos fatores exigidos por seus papeis sociais, necessidades e relacionamentos.
Segundo este modelo, as pessoas alteram suas profissões para ajustar-se às mudanças da vida, repensando suas prioridades profissionais. Temos então que aquilo que era mais importante em um determinado momento pode tornar-se secundário em outro, e assim havendo alterações nas prioridades em função da dinâmica e interação entre os diferentes aspectos da vida. Em analogia ao caleidoscópico, que tem três espelhos, este modelo teórico prevê que são três os parâmetros para a tomada de decisões de carreira: Autenticidade, Balanço e Crescimento. E eu quero aproveitar estes parâmetros e relacioná-los com a carreira de Psicólogo Escolar.
A Autenticidade está associada a ser fiel a si mesmo e a seus valores, refletindo uma tendência a procurar uma profissão significativa em relação a seus valores e características – e aqui vejo com fidedignidade os psicólogos escolares, que eu particularmente nunca conheci uma psicóloga escolar que não tivesse seus valores pessoais afinados com o interesse pelas questões educacionais e a inter-relação com os aspectos relacionais e comportamentais. Apesar de ainda perdurar a falsa visão de que outras áreas da Psicologia recebem economicamente mais que a escolar, estas profissionais permanecem vinculadas a esta área.
Já o parâmetro Balanço está relacionado ao equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, e também à necessidade de, frente a uma decisão de carreira, analisar as possíveis consequências para o contexto familiar e de relacionamentos. Aqui é mais fácil visualizar como o trabalho vinculado à Escola favorece, principalmente às mulheres, já que elas tendem a tomar decisões profissionais que sejam positivas para si, considerando também o impacto que suas ações provocarão em sua família em relação aos filhos, casamento e cuidado com pais idosos e familiares – diferentemente dos homens que tendem a tomar decisões de carreira com base em seus objetivos individuais. Mesmo antes de formarem suas famílias, é comum ouvir de jovens psicólogas a preocupação em conciliar a profissão com o cuidado com os futuros filhos e veem na Psicologia Escolar um campo que propicia este balanço, sendo que é comum trabalhar um turno ou em horários alternados/flexíveis, propiciando maior proximidade com a família e satisfação com suas necessidades. Além disso, também é comum que a profissional possa matricular a criança na mesma escola que trabalha ou para a qual presta serviços, e acompanhando sua educação com maior proximidade. Sem contar que há um desconto interessante na mensalidade quando o aluno é filho de funcionário da escola.
As mulheres com frequência se veem na situação de criar alternativas ou tomar decisões de carreira que lhes permitam gerenciar suas responsabilidades profissionais e domésticas, por não encontrarem o apoio necessário nos modelos de organizações e empresas tradicionais ou tampouco no suporte do pai ou marido. E neste sentido, a profissional da Educação percebe nos meios educacionais a possibilidade de balanço entre estes importantes aspectos de sua vida.
O terceiro parâmetro é o de Crescimento, que corresponde à necessidade de evolução contínua e superação de desafios profissionais, além da busca por um trabalho estimulante com foco no avanço da carreira. Assim a necessidade de aperfeiçoamento deve ser feito através de cursos de pós-graduação seja em especializações ou na vida acadêmica, pois as fronteiras do conhecimento sempre estão avançando e a atualização é uma constante.
Estes desafios dentro da carreira de Psicologia Escolar ou das demais profissionais em Educação estão vinculados a novos projetos que enfrentem antigos desafios como a desmotivação discente e docente ou do enfrentamento à intolerância com as diferenças. De criar a partir de cada universo escolar, um multiplicador de esperança e atitudes que fazem estas mudanças acontecerem.
Mas estas experiências consolidadas com sucesso necessitam ser compartilhadas, divulgadas para que possam ser desenvolvidas por outras escolas e para isso é importante comunica-las em forma de artigos, livros, encontros científicos, como nossa Jornada, sem esquecer de antes de tudo, divulgar seu trabalho na sua própria escola, reforçando a importância do papel da psicóloga escolar junta à comunidade escolar e da direção de sua instituição. O marketing autêntico e consistente é muitas vezes esquecido ou relegado por nossa categoria e depois vêm com a queixa de não reconhecimento do nosso trabalho. Por outro lado, o crescimento profissional e econômico também se dá na possibilidade de conjunção da área da Psicologia Escolar com várias outras como o trabalho em paralelo de Psicologia Clínica, em psicopedagogia, de Orientação Profissional, em palestras nas semanas pedagógicas de formação continuada, por exemplo. Mas este conjunto de possibilidades só se torna real e factível se o psicólogo escolar desenvolver o autogerenciamento de sua carreira, até porque, como vimos no começo, esta é uma necessidade atual no mundo do trabalho, porque os tempos mudaram.
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