Texto escrito pela aluna do curso de Formação em Psicologia Escolar, Dafne Caroline Zanata de Moraes
Dentro dos Parâmetros curriculares Nacionais, os temas transversais são aqueles que abrangem questões urgentes e presentes na sociedade. A proposta é que esses temas sejam trazidos como base pertinente à formação de sujeitos de forma integral, para além dos conteúdos disciplinares de cada área e garantindo a “compreensão e construção da realidade social, dos direitos e responsabilidades relacionados com a vida pessoal e coletiva, e com a afirmação do princípio da participação política” (MENEZES apud MEC, 2001).
Em relação ao tema da Orientação Sexual, a proposta é “ensinar o aluno a respeitar a diversidade de comportamento relativo à sexualidade, desde que seja garantida a integridade e a dignidade do ser humano, conhecer seu corpo e expressar seus sentimentos, respeitando os seus afetos e do outro” (MENEZES, 2001). Nessa proposta, abre-se espaço para a informação a respeito de conteúdos, diminuição de preconceitos e discutição de emoções e valores acerca do tema. O objetivo é que os alunos possam desenvolver e exercer a sexualidade com responsabilidade, conhecendo e valorizando o corpo, sentimentos e desejos e respeitando a diversidade.
Assim, a temática da sexualidade pode e deve ser trazida de diversas formas e em diferentes contextos, cabendo a todos educadores se envolver com o assunto durante suas aulas – e fora delas. As faixas etárias podem ser utilizadas como diretrizes para a forma como assunto será abordado, considerando a compreensão e questionamentos que acompanham naturalmente os alunos em determinados momentos do desenvolvimento.
Com alunos menores, por exemplo, pode-se trabalhar mais diretamente em cima da curiosidade existente sobre transformações corporais, reprodução e zonas erógenas, enquanto com alunos maiores, já se aborda mais a potencialidade erótica do corpo, a relação com o outro e reflexões acerca de valores e discussões de identidade e gênero.
Para além da relação com o corpo, é importante também trabalhar questões de saúde, como as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs e AIDS). Esse é um eixo que deve ser abordado com informações sempre atualizadas sobre formas de transmissão, tratamentos, além de discussões que garantam a diminuição de preconceitos e discriminações. Além disso, a questão da gravidez indesejada também deve ser assunto presente, com informativos sobre métodos contraceptivos, além de um trabalho que aborde dados de realidade e traga espaço para reflexões acerca de dúvidas, sentimentos e responsabilização presentes na paternalidade.
Para isso, é possível se organizar um programa estruturado, criado com base nas demandas e interesses da população atendida, de fora didática e informativa. Diversas ferramentas podem ser utilizadas, como aulas expositivas, dinâmicas de grupo, palestras e elaboração e acervo de materiais para enriquecer a proposta. Além disso, esse programa deve ser estabelecido em cima da necessidade de respeito e tolerância, sem sobreposições de valores e com informativos embasados em dados científicos.
Todo o conteúdo programático de Orientação Sexual pode ser trabalhado em parceria da escola com a família. Porém, a proposta não é que a escola substituía ou concorra com a formação realizada pela família dos alunos. O intuito é que o trabalho da escola seja complementar, informativo e respeitoso aos valores de cada dinâmica existente. Assim, a escola não deve julgar, mas sim se portar com respeito às diferenças expressas pela família, garantindo um ambiente que acolha as diferenças e valorize o respeito e tolerância.
Além do programa em si, para garantir que o assunto seja tratado com respeito e sem preconceitos, o corpo docente e demais profissionais da escola devem ter um treinamento, além de espaço para também poderem trabalhar suas próprias questões em relação ao assunto e entenderem seus papeis no processo de abordagem e educação sobre a temática.
A família também deve ser comunicada sobre o programa antes de ele iniciar, trazendo informações e espaço para questionamentos. A família deve saber a proposta do projeto e entender que não se busca sobrepujar os seus valores, além de ser orientada a respeito de manejos sobre a temática da sexualidade com os filhos. A escola deve estar preparada também para lidar com alguns casos de resistência ou até mesmo proibição da participação dos filhos no programa, o que deve ser respeitado, com possibilidade dos alunos serem dispensados.
Assim, a proposta do programa de forma transversal deve envolver a temática em vários contextos, formas e abordada por diversos agentes da escola. O essencial é que os alunos tenham acesso acerca do tema e espaço para reflexão, podendo questionar e discutir valores e sentimentos. A escola como ambiente educativo deve estar preparada para garantir isso, não só na abordagem estabelecida, como no contato com a família e na formação e treinamento dos profissionais para que aconteça de forma aberta, responsável e respeitosa.
Referência:
MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete transversalidade. Dicionário Interativo da Educação Brasileira – Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <https://www.educabrasil.com.br/transversalidade/>. Acesso em: 16 de abr. 2020.
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