O educador menospreza a importância de sua personalidade no desenrolar de suas aulas. Há professores autoritários, “bonzinhos”, desorganizados, descontrolados, incentivadores, enfim, tantos tipos de personalidades quantos podem existir, pelo único fato de serem, antes de tudo, seres humanos.
Já se disse que tudo o que ocorre numa sala de aula passa pela personalidade do professor.
Por que um docente é mais tolerante do que o outro? E mais tolerante em relação a quais comportamentos? Por que um professor prefere trabalhar com crianças a trabalhar com adolescentes? Como foi adolescência deste ou sua infância?
É neste jogo de sentimentos que está a força da educação.
A personalidade do professor serve como modelo para o jovem. Modelo diferente do apresentado pela família. Modelo este, que poderá mostrar outras formas de ser, positivas e negativas.
O ser do professor não pode solucionar os problemas do aluno, mas pode mostrar uma esperança, uma escapatória de um ambiente neurótico, psicótico ou mesmo marginal.
Muitos alunos preferem permanecer na escola a voltar para casa. Essa preferência não pode ser atribuída, unicamente, ao grupo de colegas. Estaríamos, novamente, menosprezando a importância do docente como pessoa. Muitas crianças e jovens, ficam ou voltam à escola, sem ter compromisso de freqüentar aulas. Fazem-no para jogar e encontrar-se com outros colegas, que também lá estão, para se divertir ou, até, para namorar. São alunos que, muitas vezes, ficariam sozinhos em casa, porque os pais estão trabalhando, ou ficariam com alguma empregada. Outros buscam a escola em função de sentirem um clima “pesado’’ no lar, por diversas dificuldades que as famílias atravessam.
A escola, nestes momentos, não representa uma instituição de ensino, nem apenas um lugar de lazer. É também, um espaço onde o jovem se sente protegido, onde há pessoas que se preocupam com ele. Um local conhecido, onde, mesmo que seja repreendido, a repressão é sentida como contenção de impulsos que não consegue controlar. Se houver algum problema estes alunos sabem que alguém os ouvirá e tentará solucioná-lo de forma adequada. São alunos, que, quando cruzam com seus professores, nos corredores da escola, cumprimenta-nos alegremente e são correspondidos nesta demonstração de afeto.
Na escola, eles se sentem “em casa”. É bom estar ali. É como se fosse um colo gostoso, protetor, amigo.
E, além disso tudo, ainda crianças para brincarem com eles.
Mas a recíproca é verdadeira. Os professores demonstram grande satisfação ao serem cumprimentados, abordados para uma rápida conversa informal, ou quando recebem algumas brincadeiras de crianças ou jovens, que já foram seus alunos, anos passados. Lembranças que estes escolares lhes trazem, fazem com que riem sozinhos e comentem com colegas as situações recordadas e, como é bom, quando um aluno demonstra carinho, depois de tantos anos. Mas estas manifestações afetivas por parte dos alunos só ocorrem, quando estes professores deixaram neles, marcas de sua personalidade. Assim, também, os alunos que ficam no seu extraturno livre, na escola, só os fazem por sentirem que há personalidades afetivas, que lhes fazem bem e com quem querem continuar mantendo contato.
Não se pode menosprezar, de modo algum, a influência da pessoa do professor sobre a pessoa do aluno.
Tendo está consciência, é necessário que o docente tenha um bom autoconhecimento, é preciso autocrítica mas, também, um feed-back externo que pode vir de colegas, dos assessores dos setores especializados da escola e, até mesmo, dos alunos. Aliás, estes são especialistas em colocar apelidos que espelham perfeitamente as características mais marcantes dos professores.
No entanto, para isso o professor não pode continuar aceitando um ideal profissional tão elevado e permitir e aceitar-se como pessoa, sujeita a errar, a sentir e se reconstruir.
Lembrando Mosquera, 1978, que diz: “Educar num sentido dimensional supõe acordar de uma letargia, e este acordar é tomar posse do autodescobrimento e do crescimento interno que cada indivíduo precisa fazer para chegar a ser realmente uma verdadeira pessoa humana”.
Texto escrito por Vivien Böck – Psicóloga Clínica e Escolar, mestre em Psicologia Social e da Personalidade, Formação em Psicoterapia de Família e Casal, Professora na PUCRS, autora do livro “Professor e Psicologia Aplicada na Escola” e “Motivação para Aprender, Motivação para Ensinar”, coordenadora e professora do CAPE
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