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“O humor permite olhar o reino do humano como faria um estrangeiro que busca o outo lado de tudo: o

Gostaria de indicar um livro de leitura muito prazerosa e que me levou a algumas reflexões sobre a dinâmica das relações escolares.

“Humor é coisa séria” do psicanalista Abrão Slavutzky. O título já define o tema do livro, o humor, sob a ótica da psicanálise.

À medida que minha leitura se desenvolvia, fui associando diversos trechos do livro com as questões escolares e com a falta de humor no processo de ensino. Abaixo relato algumas dessas frases e desenvolvo algumas digreções.

Começo com a frase título desta resenha, “O humor permite olhar o reino do humano como faria um estrangeiro que busca o outo lado de tudo: o ridículo do sério, o sério do ridículo.”pg.34  Essa colocação me fez lembrar de tantos professores graves ( para mim, gravidade é diferente de seriedade) que tornam tudo muito pesado e complicado, que olham com desdém e superioridade a brincadeira de alguns colegas docentes que visam suavizar os conselhos de classe, geralmente muito densos e pesados pois enfocam fundamentalmente os alunos com problemas. São pessoas muito críticas e exigentes, manifestando um superego rígido e repressor. Como contraponto o autor refere que “… o Supereu do bem humorado é benigno e não sádico e severo, goza da perfeição, tolera as falhas e até ri delas. A pessoa pode assim manter seu amor-próprio até mesmo nas situações de fracasso.”pg 29

Lembrei também de professores que azedam as relações utilizando de muita ironia, principalmente em sala de aula, debochando dos alunos e colocando-os em situações de ridículo e humilhação. Deixam às vezes marcas mais profundas e tristes que a intenção que estes docentes tinham. Slavutzky refere que “a ironia fere, o humor cura. A ironia ataca, o humor ajuda a viver”.

Por outro lado, o vínculo que se estabelece entre professor e aluno, é acompanhado também de transferência, assemelhando-se ao vínculo do analista e paciente, obviamente guardadas as devidas proporções e objetivos de cada um. Mas “o certo é se estabelecem laços amorosos, é gerado um amor, o famoso amor de transferência misturado à agressividade” pg 118. Assim é a relação docente e discente, de construção cognitiva e afetiva mas também de reclamações e agressões, de professor xingando seu aluno e de aluno desrespeitando o docente. …“são violências que explodem devido às ambivalências de amor e ódio com quem estabelecemos dependência” pg 121 . E também nesta relação se pode perguntar “sobre a dose de masoquismo do paciente (aluno) e do sadismo do analista (professor) que está em jogo na relação”. Pg 159 “A idealização do paciente (aluno) em relação ao analista (professor) deve com o tempo retornar ao paciente (aluno), não em forma de idealização, mas, sim, de confiança nas possibilidades do trabalho feito em conjunto”. Pg 307

Em outra parte, fala da dose de liberdade que o humor traz intrinsicamente e usa a expressão “servidão voluntária” para os que têm medo dos riscos que a liberdade acarreta.  Esta expressão pode ser usada para muitos docentes, principalmente os de escolas públicas, que, apesar de se queixarem sistematicamente, não pensam em sair desta situação pois lhes é conveniente manter a estabilidade que um cargo público lhes confere. E neste sentido “…como sofredores crônicos, que suportam a dependência para não enfrentar o desamparo da liberdade”pg. 79, os professores continuam em seu emprego estável para não correr os riscos que outros docentes de escolas privadas, ou outras colocações profissionais trazem.

Por sua vez, ao falar do humor das crianças, o brincar e a realidade tão bem descritos por Winnicott e que permeia a vida escolar, o autor se pergunta: “mas o que ocorre com ele ( humor) ao longo dos anos até a idade adulta”? Falando de brincadeira infantil, “ todo esse jogo se dá graças à capacidade de simbolizar, do aprendizado das primeiras palavras nessa idade” pg 283 e que cria a possibilidade de toda a aprendizagem escolar.

E para não me delongar demais, pois poderia comentar várias outras partes deste livro, quero lembrar o humor como fator de resiliência, que a Psicologia Positiva estuda e que Slavutzky considera que“ …é o melhor antídoto contra as queixas, pois os problemas, as falhas, podem ser motivo de graça”pg 318  “O humor é um anteparo, um para-raios diante das frustrações cotidianas. “ pg 332

Por fim, reforço a indicação da leitura deste livro e mais, convido a todos a ouvir sobre este tema “ O poder do humor na educação” que será abordado pelo autor, Abrão Slavuztki na III Jornada Estadual de Psicologia Escolar do CAPE no dia 12 de setembro de 2015.

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