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O Papel da Psicologia Escolar a partir de Rubem Alves

por Pedro Fortes de Azevedo Rangel, psicólogo aluno do curso de Formação em Psicologia Escolar


O que penso dos jovens e da educação não me permite aceitar que a escola seja uma

experiência de dor – Rubem Alves


Rubem Alves nos remete ao questionamento fundamental sobre o que é, de fato, a psicologia escolar e a que ela se propõe enquanto prática. Mais do que isso, se trata de questionar o que é a própria instituição escolar e para que ela serve. Como figura proeminente do campo da educação e da pedagogia, Rubem Alves reconhecia a necessidade de se pensar na educação como instrumento de profunda transformação social e emancipação. Reconhecia também, por outro lado, a forma como as instituições escolares podem agir de maneira contrária a esta perspectiva, atuando unicamente no sentido de reproduzir normas, relação de poder e padrões de opressão. A frase acima sintetiza essa contradição com clareza.


Quando se considera o lugar da psicologia na instituição escolar, é possível adotar posturas bastante antagônicas. Comumente, pode-se pensar no psicólogo escolar que atua no sentido de promover a adequação do aluno às normas institucionais e sociais, intervindo em situações em que a criança ou o adolescente se mostrem incapazes de se comportar adequadamente ou de acompanhar o currículo. Este psicólogo escolar é normativo, não está interessado na transformação e tampouco em Rubem Alves. Há, alternativamente, o psicólogo escolar que buscará fornecer aos alunos as ferramentas necessárias para a sua emancipação e autonomia enquanto sujeitos. Este profissional buscará estimular o potencial de cada um dentro das suas características particulares, atentando-se à manutenção da saúde mental estudantil e compreendendo que um bom ambiente de aprendizagem é um ambiente de diversidade.


Compreendo, a partir dessa reflexão, que o papel do psicólogo escolar se encontra no cerne da contradição entre um modelo de educação emancipatória ou de educação bancária, nos termos de Paulo Freire. Nesse ponto, defendo que a atuação da psicologia escolar sob uma perspectiva bancária viola os princípios éticos mais elementares da profissão e promove, acima de tudo, a conformidade e a reprodução de modelos violentos e excludentes de educação. A perspectiva emancipatória é aquela que deve nortear a atuação do psicólogo escolar compromissado com o pleno desenvolvimento do corpo estudantil e o bem-estar coletivo de maneira ampla.


Vale lembrar, no escopo desta discussão, que a própria Lei de Diretrizes de Bases determina que o objetivo do Ensino Fundamental consiste na formação ampla do cidadão, abarcando aspectos da aprendizagem, da compreensão social, política e ética do seu entorno, da formação de vínculos com outras pessoas e com a comunidade e da capacidade de tolerância à diferença. Junto a isso, a Base Nacional Curricular Comum também prevê o desenvolvimento de competências muito para além do conhecimento acadêmico e da aprendizagem formal, como o pensamento crítico e criativo, o repertório cultural, a empatia e o autoconhecimento. Tais determinações, somadas ao compromisso ético fundamental da profissão de psicólogo, apontam para a necessidade de uma postura acolhedora e humanista do psicólogo escolar.


Além disso, não se pode ignorar a dimensão de sofrimento inerente ao processo de amadurecimento e as dores associadas às transições da infância para a adolescência e da adolescência para a vida adulta. Tratam-se de processos extremamente desafiadores, como o afloramento da sexualidade, a formação da identidade, as novas formas de socialização e o luto pela infância, e é papel da escola oferecer o apoio e os instrumentos necessários para que esses momentos sejam vivenciados de maneira saudável e construtiva. Os fenômenos de transformação orgânica e mental atravessados pelas crianças e adolescentes envolvem profundo trabalho psíquico e, sem o acolhimento escolar, podem provocar uma grande carga de dúvida, insegurança e dificuldades emocionais no longo prazo.


Em sua frase sintética, Rubem Alves sugere nas entrelinhas que a escola deve ser um espaço de acolhimento, confiança e não-julgamento. Ao contrário de um lugar que provoque dor e desconforto, a escola deve assumir o papel de mitigar essas dores e estimular o desenvolvimento pleno e saudável de todos.




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