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Psicólogo Escolar como agente de mudança na pandemia

Atualizado: 6 de jul. de 2020

Texto adaptado e escrito por Patrícia Bandeira, mestre em Psicologia e coordenadora administrativa do CAPE


As pessoas estão se sentindo bastante desconfortáveis ​​com as mudanças que o isolamento social têm provocado, por todos os tipos de razões compreensíveis, como o medo de contrair o vírus, de perder alguém próximo, de insegurança quanto ao futuro. Foi uma transformação muito grande, de rotinas e de emoções, e ainda está por vir o momento de retorno às aulas. É fundamental o papel dos psicólogos ou gestores escolares nesse momento, para facilitar a passagem por esse momento tão delicado.


Nesse sentido, é importante o entendimento como os diferentes públicos da escola - alunos, docentes, funcionários e familiares - estão se sentindo à medida que a mudanças avançam, para que ao final, elas possam aceitá-las e lidar melhor com elas. Existe um modelo, proposto por Willian Bridges, que nos auxilia a compreender melhor esse fenômeno e como reagir diante das inseguranças provocadas pelas mudanças.


Sobre o modelo


O modelo de transição foi criado pelo consultor William Bridges, e publicado em seu livro, “Gerenciando Transições”. É importante ressaltar que seu modelo está concentrado na transição, não na mudança. A diferença entre estas duas é sutil mas importante: mudar é algo que acontece com as pessoas, mesmo que elas não concordem com isso, como no caso do distanciamento social que todos estamos vivenciando e suas consequências. Mudança acontece com as pessoas. A transição, por outro lado, é interna: é o que acontece dentro da mente das pessoas quando elas são apresentadas à mudança.


A transição, por outro lado, é interna: é o que acontece na mente das pessoas quando elas passam por mudanças. A mudança pode acontecer muito rapidamente, de uma hora para outra, enquanto a transição geralmente ocorre mais lentamente.


O modelo destaca três estágios de transição pelos quais as pessoas passam quando experimentam mudanças. Esses são:

1. Terminando, perdendo e deixando ir.

2. A zona neutra.

3. O novo começo.

Bridges diz que as pessoas passarão por cada etapa no seu próprio ritmo. Por exemplo, aqueles que estão confortáveis ​​com a mudança provavelmente irão avançar para o terceiro estágio mais rapidamente enquanto outros permanecerão nos estágios um ou dois. Vamos conhecer esses diferentes estágios.


Estágio 1: Terminando, perdendo e deixando ir


As pessoas entraram nesse estágio inicial de transição quando se depararam pela primeira vez com as mudanças. Esta fase é frequentemente marcada por resistência e agitação emocional, porque as pessoas estão sendo forçadas a deixar algo com que se sentem à vontade, além de frequentemente enfrentarem a sensação de perda em relação à situação anterior que se encontravam, que a partir de então passa a não mais existir.


Nesse estágio, as pessoas podem experimentar essas emoções:

· Medo.

· Negação.

· Raiva.

· Tristeza.

· Desorientaçao.

· Frustração.

· Incerteza.

Quando o isolamento social começou, pudemos constatar o medo de contaminação do vírus, o medo de ficar doente, de morrer ou perder alguém ou de perder o emprego. Também observamos em vários graus, a negação da gravidade da doença em pessoas que não respeitavam o distanciamento, o uso de álcool gel ou máscaras e a raiva por estarmos passando por estas dificuldades. Algumas mães demonstravam sua indignação de ter de ensinar seus filhos sem formação para tal.

Em um primeiro momento houve grande desorientação, principalmente em relação às questões escolares, como criar as aulas online e como assistí-las. Para os pais, foi o caso de dar conta de home office e as dificuldades de sua adaptação, ao mesmo tempo que precisavam atentar para as atividades escolares dos filhos. Isso gerou muita frustração e ficou claro que se necessita de uma professora para dar aulas.

As pessoas têm que aceitar que algo está terminando antes que possam começar a aceitar a nova ideia. É necessário reconhecer as emoções pelas quais as pessoas estão passando, para poder diminuir a resistência durante todo o processo de mudança.


Como ajudar as pessoas diante do estágio 1


É importante aceitar a resistência das pessoas e entender suas emoções. Para isso é necessário manter contato com as famílias, os alunos e corpo docente, em diferentes momentos. Permita-lhes tempo para aceitar a mudança, e tente fazer com que todos falem sobre o que estão sentindo. Nessas conversas, certifique-se de ouvir com empatia e se comunicar abertamente sobre o que vai acontecer.


Enfatize como as pessoas poderão aplicar suas habilidades, experiência e conhecimento. Explique como a escola vai dar a eles o que eles precisam para trabalhar efetivamente no novo ambiente virtual (por exemplo, treinamento para criar aulas remotas e como utilizar os recursos).


As pessoas muitas vezes temem o que não entendem, então, quanto mais você puder educá-las sobre um futuro positivo e comunicar como seus conhecimentos e habilidades são essenciais para chegar lá, mais provável é que sigam para a próxima etapa.


Estágio 2: A zona neutra


Nesse estágio, as pessoas afetadas pela mudança estão frequentemente confusas, incertas e impacientes. Dependendo de quão bem a escola está gerenciando a mudança, professores também podem experimentar uma carga de trabalho mais alta à medida que se acostumam com novos sistemas e novas maneiras de trabalhar. Muitos professores e alunos se queixam que estão trabalhando mais do que quando as aulas eram presenciais.


Pense nessa fase como a ponte entre o velho e o novo; de certa forma, as pessoas ainda estarão ligadas ao antigo, enquanto também estão tentando se adaptar ao novo.

Aqui, as pessoas podem experimentar:

· Ressentimento em relação à iniciativa de mudança.

· Baixo moral e baixa produtividade.

· Ansiedade sobre seu papel, status ou identidade.

· Ceticismo sobre a iniciativa de mudança.

Apesar disso, esse estágio também pode ser de grande criatividade, inovação e renovação. Este é um ótimo momento para incentivar as pessoas a tentarem novas maneiras de pensar ou trabalhar.


Como ajudar as pessoas diante do estágio 2


Orientação é extremamente importante quando as pessoas passam por esse período neutro. Esse pode ser um momento desconfortável, improdutivo e que pouco progresso está sendo feito. Como as pessoas podem se sentir um pouco perdidas, forneça a elas um sólido senso de direção, reforçando que a pandemia irá passar, que não devem exigir que seu desempenho ou resultado sejam os mesmos de antes, que a incerteza é esperada e normal para este período.


Reúna-se frequentemente com seus professores para dar feedback sobre o desempenho deles, principalmente em relação as mudanças no processo pedagógico. Também é importante definir metas de curto prazo para os alunos durante este estágio, para que eles possam experimentar alguns ganhos rápidos. Isso ajudará a melhorar a motivação, além de dar a todos uma percepção positiva do esforço realizado.


Além disso, faça o que puder para aumentar o moral e continue a lembrar as pessoas de como elas podem contribuir para o melhor resultado emocional deste momento. Se necessário, você também pode ajudar os envolvidos a gerenciar suas cargas de trabalho, quer priorizando alguns tipos de atividades, quer trazendo recursos extras.


Etapa 3: o novo começo


O último estágio de transição é um momento de aceitação e energia. As pessoas começaram a aceitar e abraçar a mudança. Eles estão construindo as habilidades que precisam para trabalhar com sucesso da nova maneira, e estão começando a ver os primeiros ganhos de seus esforços. Neste estágio, as pessoas provavelmente experimentarão:

· Maior energia.

· Abertura para aprender.

· Compromisso renovado para o grupo ou seu papel.


Como ajudar as pessoas diante do estágio 3


Quando as pessoas começam a adotar a mudança, é essencial que você as ajude a sustentá-las, e destaque regularmente as histórias de sucesso trazidas pela mudança. É interessante divulgar exemplos positivos, reforçando quem os realizou e apoiando colegas que talvez ainda estejam em estágios anteriores. Outro ponto interessante nessa fase, é apoiar a autonomia dos envolvidos, para que possam pensar em soluções e alternativas para o novo momento. Tire um tempo para celebrar a superação das dificuldades e as conquistas já alcançadas.


No entanto, lembre-se de que nem todos alcançarão esse estágio ao mesmo tempo. Todos os estágios do Modelo de Transição de Bridges são subjetivos, ou seja, variam de pessoa para pessoa. Para identificar o estágio que uma pessoa se encontra, é preciso escuta e empatia – reforçando o papel fundamental da psicologia escolar nesse momento.





Texto elaborado com base no artigo: LOUZADA, Paula. O que é o modelo de transição de Bridges? Como funciona? Campinas: FM2S, 2019.

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