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Vamos falar de suicídio na escola?

por Marcelle Durli Marcon – especialista de Psicologia Escolar pela FATO/CAPE.

Todos os anos, mais de 800.000 pessoas morrem por suicídio, o que representa uma morte a cada 40 segundos¹. O número mortes por suicídio é superior ao decorrente de homicídios e guerras combinados, sendo a segunda principal causa de morte entre jovens de 15-29 anos no ano de 2012². Estima-se que até 2020 poderá ocorrer um incremento de 50% na incidência anual de mortes por suicídio em todo o mundo². A cada cinco pessoas que planejam terminar com a própria vida, três efetivamente o tentam, e para cada suicídio efetivo, há mais de 20 tentativas prévias³. O comportamento suicida, portanto, costuma ser concebido em um continuum que se inicia com ideias de suicídio, evoluindo para o planejamento suicida, e posteriormente a tentativa de suicídio, resultando ou não em morte (4).

Logo, toda pessoa que fala sobre suicídio tem risco em potencial de cometê-lo e merece investigação e atenção especial². Contudo, apesar de convivermos diariamente com jovens com importantes manifestações depressivas associadas à ideação suicida, os quais não buscam ou não podem contar com apoio de familiares, amigos, profissionais da área da saúde ou educação, o suicídio segue sendo uma temática pouco abordada em nossa sociedade devido ao tabu e à dificuldade de se falar a respeito de morte (5).

Assim, urge a necessidade de implantar programas e estratégias de prevenção dos comportamentos suicidas na pauta das políticas, da saúde pública e também da educação, uma vez que estágios precoces do comportamento suicida podem se manifestar em idade também precoce, podendo progredir rapidamente para fases de relativa falta de resposta à influência familiar, ambiental e aos esforços tardios de prevenção (5).

A escola tem papel estratégico para a promoção e proteção da saúde dos alunos, podendo ser um local privilegiado para a identificação precoce de situações problemáticas, já que aspectos relacionados ao meio familiar, grupo de amigos e escola são de extrema importância para a qualidade de vida do adolescente (4).

O suicídio é um fenômeno universal e multifacetado, o que dificulta sua compreensão. Contudo, a negação desse fenômeno impossibilita que atitudes preventivas sejam tomadas em todos os âmbitos da sociedade, inclusive na escola. É de suma importância que os professores sejam instrumentalizados para informar e acolher seus alunos, identificando jovens em potencial risco e encaminhando-os quando necessário.

O papel do psicólogo escolar nesse contexto pode ser bastante abrangente e complexo. Primeiramente, porque introduzir um trabalho com suicídio no contexto escolar implica em quebrar tabus. Para tal, além de instrumentalizar os professores e auxiliá-los a lidar com demandas que podem mobilizá-los, é preciso sensibilizar a comunidade escolar sobre a importância desse tema, e realizar projetos também voltados a alunos e pais. Vale reforçar que o trabalho escolar não deve restringir-se à prevenção, mas deve preocupar-se também em como lidar com o impacto causado quando o suicídio ocorre dentro da comunidade escolar. Esse é outro trabalho importante para o psicólogo escolar: lidar com uma comunidade escolar fragilizada quando o suicídio invade seus muros.

Texto baseado na monografia da autora intitulada “Comportamento Suicida na Adolescência: o Papel da Escola na Prevenção”.

setembro-amarelo

¹WORLD HEALTH ORGANIZATION. Suicide. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs398/en/, acesso em: 27 de agosto e 2016.

²ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA (ABP). Suicídio: informando para prevenir. Associação Brasileira de Psiquiatria, COMISSÃO DE Estudos e Prevenção de Suicídio – Brasília: CFM / ABP, 2014.

³BOTEGA, N.J.; BARROS, M.B.A.; OLIVEIRA, H.B.; DALGALARRONDO, P.; MARÍN-LEÓN, L. Suicidal behavior in the community: prevalence and factors associated with suicidal ideation. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2005; 27: 45-53.

4BAGGIO, Lisandra et al. Planejamento suicida entre adolescentes escolares: prevalência e fatores associados. 2009.

5WERLANG, Blanca Susana Guevara; BORGES, Vivian Roxo; FENSTERSEIFER, Liza. Indícios de potencial suicida na adolescência. Psicologia Revista – Revista da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. ISSN 1413-4063, v. 14, n. 1, p. 41-57, 2014

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