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A Escola pode ou não “convidar” um aluno a se retirar

por Vivien Rose Bock, coordenadora do CAPE

O Conselho Estadual de Educação (RS) analisa parecer que impediria o afastamento da escola de alunos, como punição, por indisciplina na rede pública e privada de ensino básico. A norma prevê que não cabe à escola definir a transferência compulsória de qualquer estudante, obrigando-o a deixar de estudar em determinada instituição e passar a estudar em outra. Tal resolução seria aplicada em todos os casos, independentemente de o estudante ter histórico violento ou como infrator, dentro ou fora da escola. Caso o parecer seja aprovado, a instituição fica responsável por lidar com casos de indisciplina de outras maneiras.

Ora, para uma escola chegar ao ponto de considerar que o afastamento é o único modo de conter os impulsos e comportamentos inadequados de um aluno é porque já foram tentadas  inúmeras estratégias de resolver esta situação durante anos e a instituição sente-se impotente para solucioná-la. Quem trabalha com Educação sabe do esforço e tempo que as escolas dedicam quanto à questão da falta de limites e violência dentro das escolas.

As “outras maneiras” que o CEE se reporta já foram esgotadas como conversas com o aluno infrator, com vários professores, com o Serviço de Orientação Escolar, entrevistas com os pais, que nem sempre comparecem ou que tem as suas dificuldades para entender e lidar com os filhos. Encaminhamentos a profissionais especializados como psicólogos, psicopedagogos e outros para que com sua técnica e ciência possam ajudar nos manejos mais adequados. Estes alunos e suas famílias não conseguem seguir ou colaborar com as orientações escolares e as incivilidades se agravam prejudicando não apenas a estes estudantes mas a todo ambiente escolar, passando a percepção tão em voga de “não dá nada”. Ou seja, resta a decisão de “convidá-lo a se retirar” da escola para que esta tenha novamente o respeito da comunidade escolar que se questiona e se indigna com a permanência deste educando e de seus comportamentos agressivos.

Mas este aluno talvez tenha uma melhor oportunidade em outra instituição, ou por se adequar melhor a esta outra realidade; ou para que sua família se conscientize, a duras penas, que necessita olhar-se e tomar providências para atender a seu filho; ou por sentir efetivamente que seu comportamento é prejudicial para todos e que ele perde com isso.

Entre tantos estudos que comprovam que atitudes de condescendência e permissividade resultam em baixa tolerância à frustração, a revista Època negócios (setembro, 2014) traz um pequeno artigo sobre uma pesquisa de motivação. Segundo Kelly Goldsmith, professora da Kellog School Management, e seu colega Ravi Dhar, de Yale, a ameaça de perder algo que se considera positivo, resulta em maior empenho, maior motivação no trabalho, do que a promessa de receber um bônus ou algo desejado.

Ao ler o texto, lembrei-me da norma pretendida pelo CEE e também de alguns casos que atendi. Os alunos ameaçados de terem de sair de sua escola ou mesmo, de trocarem de turma ou turno, por motivos de indisciplina e agressões, refletiam e se dispunham seriamente a alterarem seu comportamento. Bem ou mal, a ameaça de perderem seus vínculos com os colegas, com a instituição que lhes reprime mas também que os acolhe, foi o fator decisivo para reverterem atitudes e aceitarem as orientações da escola como buscarem acompanhamento terapêutico. Mas, se não importa para um aluno perder seus relacionamentos, então não tem sentido permanecer nesta instituição e talvez a agrida para conseguir se desvencilhar dela.

Nenhuma escola quer chegar ao ponto de excluir um aluno, e muitas vezes, relutam demasiadamente para tomarem esta decisão. Também nenhum aluno e família querem que esta situação ocorra. Mas é necessário que eles entendam que podem ter prejuízo no que mais prezam na escola, seus amigos, companheiros de brincadeiras, de conversas, de crescimento. Saber que por mais que mantenham um vínculo fora da escola com os colegas, não viverão o dia-a-dia escolar, as experiências conjuntamente. Ficarão sabendo das histórias mas não as vivenciarão, serão plateia e não atores.

Assim, penso que a ameaça real de ser retirado da escola, que se efetiva e não é mera balela da direção, torna-se uma forte aliada na busca de uma reflexão profunda e mudança de comportamento que só beneficiará a comunidade escolar mas principalmente, a este aluno.

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