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Paternidade e sua Função no Cotidiano Escolar da Criança

Post de autoria da especialista em Gestão em Psicologia Escolar Michele de Assis Muller, com base em sua monografia “Paternidade e Parentalidade no Cotidiano da Criança: questionamentos e reflexões da Psicologia Escolar” , realizada sob orientação da profa. Vivien Bock.

O Brasil vivencia mudanças significativas nos arranjos familiares, desde o final do século XX, com a chegada da mulher no mercado de trabalho pela necessidade em contribuir com o sistema financeiro familiar e dos movimentos feministas. As novas configurações e estruturas das famílias exigem também uma reorganização dos papéis sociais, na forma como cada membro da família desempenha sua função.

Assim, a paternidade vem assumindo atividades que antes eram consideradas como responsabilidades exclusivas da maternidade, rompendo com o modelo da família tradicional em que o homem era o “provedor financeiro” e a mulher a “dona do lar”.

Essa temática tem recebido uma maior atenção em diferentes espaços através de pesquisas, discussões e reflexões a respeito de uma figura paterna participativa e consciente da sua importância em compartilha a responsabilidade de educar e de desejar se relacionar com seus filhos em todas as fases da vida, principalmente, no desenvolvimento do sujeito em idade pré-escolar. Saraiva, Reinhardt e Souza (2012) consideram que ser pai não é somente uma função biológica: implica no simbólico dos sentimentos e atitudes que demonstrem o desejo de estar presente na vida da criança, embora muitos pais se posicionem como meramente um suporte e apoio a mãe.

A escola é um espaço que acolhe as diferentes gerações e culturas em que nos deparamos com conflitos que podem escamotear o sofrimento tanto do educador, como da criança e de sua família (Bastos, 2009, p. 94). Há crianças que têm facilidade em se adaptar a novos ambientes por já ter vivenciado a separação da mãe, ao frequentarem berçários e creches. Essas crianças se desprendem da mãe pelo interesse e curiosidade de conhecer os brinquedos, pracinhas e outras crianças, vinculando-se à professora sem gerar ansiedades e preocupações aos adultos (Böck, 1996). As escolas, cientes que a criança pode apresentar o choro excessivo ao não querer se separar da mãe, sugerem a presença de uma terceira pessoa: o pai. De acordo com Böck (1996), a presença do pai é importante, pois a criança não sente a ambivalência que a mãe transmite pelo sentimento de culpa em ter que se separar do seu filho. Segundo a autora, o pai não está envolvido de maneira simbiótica com a criança, assim consegue ter consciência intelectual e emocional do quanto é importante a socialização para o desenvolvimento do sujeito. Tal sugestão tem o intuito de promover a participação do pai no contexto escolar, ao envolvê-lo na relação pai e filho(a). Para Dor (1991), sem passar pela instância de pai imaginário, nenhum pai real poderia e conseguiria estar no lugar do pai simbólico.  Silva & Piccinini (2007) relacionam como pai, o sujeito que assume novas tarefas e atos que favoreçam, no desenvolvimento infantil, a sobrevivência, a saúde, o cuidado e educação da criança.

A criança que vivencia a ausência do pai “real ou simbólico” no seu cotidiano escolar e familiar tem mais probabilidade de apresentar comportamentos agressivos, dificuldade de reconhecer limites e de aprender as regras de convívio social (Benczik, 2011). O relacionamento pai – filho(a) tem se mostrado significativo para o desenvolvimento da criança, influenciando na qualidade das relações interpessoais nos ambientes escolares.  Ao existir o desejo do pai em participar da vida do(a) filho(a), a qualidade da relação pai – filho(a) contribui para o bom desenvolvimento social da criança, em que a desenvoltura social é um fator de proteção para as crianças que ingressam em atividades escolares (Cia & Barham, 2009).

A Psicologia Escolar, nos dias de hoje, observa, escuta, analisa e intervém no cotidiano da escola, nas reuniões, ao perceber que pode estabelecer novas maneiras de escutar e olhar para a criança, evitando rótulos, diagnósticos imprecisos e hipóteses únicas (Andrada, 2005). Com isso, o Psicólogo Escolar trabalha em um contexto complexo envolvendo-se em todo segmento do sistema educacional na articulação de ações como a formação continuada, orientação de pais, as rodas de conversas com as famílias sobre diversos assuntos como: o desenvolvimento infantil e a importância das relações na vida social da criança. Estes movimentos são realizados na expectativa de sensibilizar a comunidade escolar para a importância da presença paterna no cotidiano da criança.

Parentalidade e Escola Psicologia Escolar

Referências Bibliográficas

ANDRADA, E.G.C. (2005) Novos Paradigmas na Prática do Psicólogo Escolar. Psicologia Reflexão e Crítica, 18(2), 196-199.

BASTOS, A.B.B.I. (2009) A escuta psicanalítica e a Educação. Revista: Psicólogo Informação, Instituto Metodista de Ensino Superior, 13(13), 91-98.

BÖCK, V.R. (1996) Professor e psicologia aplicada na escola. Porto Alegre: Kinder

CIA, F. & BARHAM, E.J. (2009) O Envolvimento Paterno e o Desenvolvimento Social de Crianças Iniciando as Atividades Escolares. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 14, n. 1, p. 67-74.

DOR, J. (1991) O Pai e sua Função em Psicanálise. Rio de Janeiro: J. Zahar.

SARAIVA, REINHARDT & SOUZA (2012) A função paterna e seu papel na dinâmica familiar e no desenvolvimento mental infantil. Revista Brasileira de Psicoterapia, 14(3): 52-67.

SILVA, M. R. & PICCININI, C. A. (2007) Sentimentos sobre Paternidade e o Envolvimento Paterno: um estudo qualitativo. Estudos de Psicologia. Campinas, 24(4) 561-573.

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